sexta-feira, 28 de maio de 2010

Iluminando...: PEDOLFILIA

Iluminando...: PEDOLFILIA

Iluminando...: Carta de Padre Martin Lasarte (Salesiano) Angola – 28 de maio de 2010.

Iluminando...: Carta de Padre Martin Lasarte (Salesiano) Angola – 28 de maio de 2010.

Carta de Padre Martin Lasarte (Salesiano) Angola – 28 de maio de 2010.

Sou um simples sacerdote católico, Uruguaio que há 20 anos vivo em Angola, África. Sinto-me feliz e orgulhoso da minha vocação.

Me dá uma grande dor por este grave mal que sacerdotes, que deveriam ser sinais do amor de Deus, sejam um punhal na vida de inocentes. Não há palavras que justifiquem tais atos repugnantes. Vejo em muitos meios de informação, a ampliação do tema em forma maldosa, investigando em detalhas a vida de algum sacerdote pedófilo.

Assim aparece um de uma cidade dos Estados Unidos, da década de 70, outro na Austrália dos anos 80 e assim por diante, outros casos recentes.... É curiosa a pouca noticia e desinteresse por milhares e milhares de sacerdotes que se consomem por milhões de crianças, pelos adolescentes e pelos mais desfavorecidos nos quatro ângulos do mundo!

Penso que aos meios de comunicação não lhes interessa que eu tive que transportar, por caminhos minados no ano 2002 muitas crianças desnutridas desde Cangumbe a Lwena (Luena) Angola, pois nem o governo se disponha e as ONG’S não estavam autorizadas a salva-los.

Não tem sido noticia que tive que enterrar dezenas de crianças falecidas entre os mortos na guerra e os que dela retornaram; que tenhamos salvo a vida de milhares de pessoas em Moxico mediante o único posto médico em 90.000 km², assim como a distribuição de alimentos e sementes; que demos a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas a mais de 110.000 crianças.

Não é de interesse que com outros sacerdotes temos socorrido a crise humanitária de cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois de sua rendição, porque não chegavam os alimentos do governo e da ONU. Não é noticia que um sacerdote de 75 anos, o Pe. Roberto, pelas noites percorra as cidades de Luanda curando às crianças das ruas, levando-lhes a uma casa de acolhida, para que se desintoxiquem da gasolina e outras drogas; que alfabetizem centenas de presos; que outros sacerdotes como Pe. Stefano, tenham lares transitórios para as crianças que são agredidas, maltratadas e até violadas e buscam um refugio.

Tampouco que Irmão Maiato com seus 80 anos, passe de casa em casa confortando os enfermos e desesperados. Não é noticia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes e religiosos tenham deixado sua terra e sua família para servir a seus irmãos em leprosários, hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças e órfãos de pais que faleceram com AIDS (SIDA), aqueles tantos que se dedicam às escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de cuidados a soro positivos (portadores do vírus da AIDS)... ou em paróquias e missões dando motivação às pessoas para viver e amar.

Não é noticia que meu amigo, o Pe. Marcos Aurélio, por salvar a alguns jovens durante a guerra em Angola, transporto de Kalulo a Dondo e voltando a sua missão tenha sido metralhado no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, por ir ajudar nas áreas rurais mais distantes tenham sido assassinados em um assalto em uma rua; que dezenas de missionários na Angola tenham morrido por falta de socorro sanitário, por uma simples malária; que outros saltaram pelos ares, por causa de minas explosivas, visitando as pessoas.

No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região. Nenhum passa dos 40 anos. Não é noticia acompanhar a vida de um Sacerdote “normal” em seu dia-a-dia, em suas dificuldades e alegrias consumindo sem barulho, em silêncio, a sua vida em favor da comunidade que serve. A verdade é que não procuramos ser noticias, senão simplesmente levar a Boa Noticia, essa noticia que sem ruídos começou na noite da Páscoa. Faz mais ruído uma árvore que cai, do que uma floresta que cresce.

Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e nem dos sacerdotes. O sacerdote não é nem um herói nem um neurótico. É um simples homem, que com sua humanidade busca seguir a Jesus e servir aos seus irmãos e Irmãs.
Pe. Martín Lasarte (salesiano) - Angola

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Deus não é surdo.

Deus continua chamando, convocando pessoas para serem no mundo um sinal visivel da sua presença de amor.
No passado viu o sofrimento do seu povo, ouviu o seu pedido de socorro e desceu para ajudá-los.
Hoje não é diferente, Deus não é surdo para os clamores do seu povo que pede, implora entre lagrimas, com gemidos e mesmo quando o sofrimento é tão forte, que nem mesmo as lagrimas são vistas ou os gemidos escutados, Deus ouve, Deus vê e de alguma forma intervem, Ele se faz presente, Ele é esta força que não deixa cair, não deixa que morra a esperança.
Ele não vem como Deus de carne e osso ajudar ou consolar, vem sim através das pessoas de carne e osso que no mundo são um sinal de Deus, pelo fato de segui-lo e como Jesus passar pelo mundo fazendo o bem.
Perceber esta presença e ação de Deus por meio das pessoas é muito importante, para não nos sentirmos sós ou desamparados por este amor divino. Quem são os anjos, os profetas, os seguidores de Jesus que passam pela minha vida hoje fazendo o bem, tocando o meu coração com o seu amor, reacendendo a chama da esperança.
Deus ouve e está muito atento a cada um de seus filhos e filhas, nós é que muitas vezes precisamos estar mais atentos para os seus sinais, favorecer momentos de silencio para em meio a tantos ruidos escutá-lo para que suas palavras não passem despercebidas sem ciumprir sua função.
Não sejamos surdos aos apelos de Deus. 

Ir. Célia Araujo do Carmo.
27-05-10
Feira de Santana - BA

quarta-feira, 19 de maio de 2010

PEDOLFILIA

Muito mais que pedofilia
POR CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER

As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca… A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de São Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.
As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.
O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.
Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!
Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?
As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse São Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!
A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.
E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.
Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!

Cardeal Odilo Pedro Scherer é Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo/SP.