sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

É facil ser feliz



Torcida


Mesmo antes de nascer, já tinha alguém torcendo por você. Tinha gente que torcia para você ser menino. Outros torciam para você ser menina. Torciam para você puxar a beleza da mãe, o bom humor do pai. Estavam torcendo para você nascer perfeito.
Daí continuaram torcendo. Torceram pelo seu primeiro sorriso, pela primeira palavra, pelo primeiro passo. O seu primeiro dia de escola foi a maior torcida. E as festinhas então, que saudades!!!  Então?  E de tanto torcerem por você, você aprendeu a torcer.
Começou a torcer para ganhar muitos presentes e flagrar Papai Noel. Torcia o nariz para o quiabo e a escarola. Mas torcia por hambúrguer e refrigerante. Começou a torcer até para um time. Provavelmente, nesse dia, você descobriu que tem gente que torce diferente de você.
Seus pais torciam para você comer de boca fechada, tomar banho, escovar os dentes(o que sempre foi fácil, pois você sempre foi muito boazinha). Eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana. Seus amigos torciam para você usar brinco, cabular aula, falar palavrão. Eles também estavam torcendo para você ser bacana. Nessas horas, você só torcia para não ter nascido. E por não saber pelo que você torcia, torcia torcido.
Torceu para seus irmãos se ferrarem, torceu para o mundo explodir. E quando os hormônios começaram a torcer, torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso. Depois começou a torcer pela sua liberdade. Torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua. Sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa.
Passou a torcer o nariz para as roupas da sua irmã, para as idéias dos professores e para qualquer opinião dos seus pais. Todo mundo queria era torcer o seu pescoço.
Foi quando até você começou a torcer pelo seu futuro. Torceu para ser médica, música, advogada.  Seus pais torciam para passar logo essa fase.
No dia do vestibular, uma grande torcida se formou. Pais, avós, vizinhos, namorados e todos os santos torceram por você. Na faculdade, então, era torcida pra todo lado. Para a direita, esquerda, contra a corrupção, a fome na Albânia e o preço da coxinha na cantina.
E, de torcida em torcida, um dia teve um torcicolo de tanto olhar para ele. Primeiro, torceu para ele não ter outra. Torceu para ele não te achar muito baixa, muito alta, muito gorda, muito magra. Descobriu que ele torcia igual a você. E de repente vocês estavam torcendo para não acordar desse sonho. Torceram para ganhar a geladeira, o micro-ondas e a grana para a viagem de lua-de-mel. E daí pra frente você entendeu que a vida é uma grande torcida.
Mesmo com toda essa torcida, pode ser que você ainda não tenha conquistado algumas coisas. Mas muita gente ainda torce por você!

domingo, 5 de dezembro de 2010

ORAÇÃO A DEUS INFINITO



Ó Tu que estás acima de tudo
Poema algum pode celebrar-te,
Palavra alguma pode exprimir-te.
És inefável,
Mas tudo o que se diz procede de ti!
Todos os seres te celebram:
Os que falam
E os que permanecem mudos.
O universal desejo,
O gemido de todos os seres
Aspira por ti.
Tudo o que existe te invoca.
Todo o ser que sabe ler teu universo
Eleva para ti um hino de silêncio.
Tudo o que subsiste, subsiste em ti.
O impulso do universo
Para ti se precipita.
És o único termo de todos os seres,
És cada um deles e não és nenhum.
Não és solitário e não és conjunto:
Possuis todos os nomes.
Como te chamarei?
Ó ser que tudo sobrepuja,
Tem piedade de mim!

Atto di amore

ATTO DI AMORE

Ti amo, mio Dio, e il mio desiderio
È di amarti fino all’ultimo respiro della mia vita.
Ti amo, o Dio infinitamente amabile,
e preferisco morire amandoti,
piuttosto che vivere um solo istante senza amarti.
Ti amo, Signore, e l’única grazia che ti chiedo
È di amarti eternamente.
Ti amo mio Dio e desidero il cielo,
soltando per avere la felicità di amarti perfettamente.
Mio Dio, se la mia lengua non può dire ad ogni
Instante “ti amo”,
voglio che il mio cuore te lo ripeta ogni volta che respiro.
Ti amo, mio divino Salvatore, perchè sei stato
Crocifisso per me,
e mi tieni quaggiù crocifisso com Te.
Mio Dio, fammi la grazia di morire amandoti
E sapendo che ti amo.




Grande Amor

sábado, 13 de novembro de 2010

Predileção


Não saberemos o que foi e como foi, mas certamente há no início da missão de Jesus uma experiência fortíssima da predilecção do amor de Deus, como um filho maravilhado diante de um Pai, associada a uma experiência de crise interior, de confronto com uma missão que ainda não era clara e exigia um discernimento que conduzisse a escolhas e consequentes rupturas. Tudo isto está ligado ao baptismo de Jesus, nas margens do Jordão.

Os evangelistas são muito sóbrios a testemunharem isto, e ao mesmo tempo quase poéticos, como tem de ser para narrar experiências destas: “Jesus fez-se baptizar por João no Jordão. Enquanto saía da água viu o Céu aberto e o Espírito descendo sobre ele como uma pomba. E ouviu-se uma voz do Céu: “Tu és o meu filho muito amado, o meu encanto”. Imediatamente, o Espírito levou-o ao deserto onde passou quarenta dias, e era tentado pelo divisor. Vivia com as feras e os anjos o serviam”. (Mc 1, 9-13)

É aqui que tudo se torna verdadeiramente seu! Na experiência definitiva do Céu aberto, do olhar de Deus, do amor de predilecção que o gera no seu íntimo como filho e encanto de Deus, como consagrado pelo Espírito que não “passa” sobre ele mas “desce” para o habitar…

Mas também na experiência profunda e dolorosa dos quarenta dias, símbolo bíblico do deserto e da preparação para os grandes começos, na experiência da crise, da divisão interior, do sentir-se no meio de dois mundos com forças tão opostos, entre feras e anjos…

Só depois disto começa a sua missão… Jesus é um homem profundamente habitado por aquilo que transmite, experimentado no encanto que isso gera e no confronto que exige. E nada disto é um momento só, certamente. O relato desta experiência de predilecção e de crise feita por Jesus não é simplesmente a narração de um momento da sua vida, mas uma parábola que nos aproxima de uma dimensão sempre presente nele.

O Céu não se fechou mais! O grande anúncio de Jesus, a “tal” Boa Notícia, é isso mesmo: “Deus está próximo, o Seu Reino está aqui, o Céu está aberto, a Salvação está ao alcance de todos…” Porque era muito exigente a salvação pela Lei: uma salvação exigida pela própria virtude, um Céu longínquo ao qual se chegava à força de braços, um Deus difícil que se conquistava à custa de muita coisa que os mais próximos de Jesus, na maior parte das vezes, não tinham para dar… mas a Boa Notícia é que o Céu se abriu e Deus mesmo veio encontrar-se com o Seu povo, veio consolar e curar os Seus, fora das muralhas do Templo, das letras da Lei e das mãos puras dos que impõem tudo isso aos seus irmãos.
E a voz do Céu também não se calou mais! Jesus continuou a escutá-la toda a sua vida, continuou a fazer a experiência do amor encantado de Deus por si, sobretudo pela mediação dos pobres e simples do seu povo, os seus amigos. Era através deles que o Pai continuava a dizer-lhe ao Coração: “Tu és o meu filho amado… o meu encanto!” Era através deles, pela maneira como o acolhiam, como lhe davam o primeiro lugar à mesa das suas casas e nas suas vidas. A maneira como acolhiam a sua Notícia e confirmavam a Jesus que ela era Boa, a maneira como se deixavam libertar diante dos seus olhos e curar à sua passagem, este era o modo como faziam o Coração de Jesus exultar de gratidão pela permanente voz de Deus “Tu és o meu filho tão amado… tão amado… tão amado… tão amado… és o meu encanto! Encanto-me contigo… tão amado…”

O Céu abriu-se para não mais se fechar nem calar, e o Espírito não seguiu adiante deixando Jesus para trás ou algum dos seus. No convívio com os seus, Jesus experimentava tudo isto, e estando com eles às vezes nem conseguia segurar o Coração: “Nesse momento, Jesus exultou de alegria no seu íntimo movido pelo Espírito e disse: Eu Te bendigo, oh Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos grandes e sabedores e as revelaste aos simples! Sim, oh Pai, porque essa foi a tua vontade!” (Lc 10, 21)

Mas a totalidade desta experiência do Amor paternal de Deus como um amor de predilecção só a tocamos quando procuramos entrar no mistério do silêncio de Jesus. Não há sabedoria sem silêncio, nem maturidade, nem encanto que dure, nem fidelidade que se aguente.

Os evangelistas preocupam-se em testemunhar-nos este silêncio de Jesus, que umas vezes roubava horas ao sono para se afastar de casa enquanto os próprios discípulos dormiam, outras vezes mandava-os à frente dele para ficar a sós, e havia noites que ia para uma colina qualquer por ali perto e passava a noite em oração, a dizer-se e a receber-se do Pai.

E daqui não podemos passar muito mais… Espreitando estes momentos, chegando-nos perto, talvez o consigamos ouvir a dizer muitas vezes “Abba…” como depois ensinou aos seus. Falar-Lhe-ia do Reino, de si, dos seus amigos, dos tristes, dos pobres e dos doentes, dos seus discípulos, das mordeduras de alguns fariseus e doutores da Lei, das suas dúvidas e decisões…


Texto de:
Rui Santiago.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Campanha contra o exterminio dos jovens

Gemidos, lamentos e gritos da juventude


No fundo de uma cela um jovem geme baixinho. Ele não é o único. 60% dos presos no Brasil têm entre 18 a 29 anos. São jovens sem perspectivas, sem sonhos, sem oportunidades...

Nós não ouvimos seus gemidos, não sentimos suas dores, não vemos seus rostos e não libertamos seus amores.

Nas ruas, um jovem sofre por não conseguir ler e escrever seu próprio nome. Ele não é o único. Em nosso país, 1,2 milhões de jovens são analfabetos.   

Nós não lemos essa informação nos jornais, não interpretamos nas escolas, não pichamos nos muros, não escrevemos o presente, nem o futuro. Se fizéssemos isso, poderíamos ajudá-los não só ler as palavras, mas ler o mundo.

Nas universidades, um jovem negro tem dificuldades para ingressar. Ele não é o único. Apenas 2% dos universitários são negros no Brasil.

Nós não divulgamos esses dados. Não discutimos, estudamos e nem encontramos teses que expliquem isso.

Bem aventurado seria o doutor que não se preocupasse apenas com sua cor.

Em casa, um jovem lamenta sua fome. Ele não é o único. No mundo um bilhão de pessoas passam fome.

Falamos que a alimentação é um direito humano, mas não temos humanidade pra reconhecer essa realidade dos que não conseguem ter nem um pedaço de pão pra viver.

Nas favelas, a polícia matou mais um jovem. Ele não é o único. No Brasil morrem em media 54 jovens por dia, vitimas de homicídios. São cerca de 19 mil jovens exterminados por ano.

A cada 10 assassinatos, 7 são negros. Somos o terceiro país que mais assassina seus jovens no mundo. A maioria é morta pela polícia. São jovens, homens, negros e pobres.

Pobres governantes e autoridades que sem autoridade não governam, não justificam seus mandatos e deixam no anonimato a juventude vítima de chacinas.

São vários os tipos de violências, como a física, verbal, psicológica, sexual... Também são várias as formas que podemos enfrentá-la.

No Brasil e no mundo um jovem grita contra as violências. Ele não é o único.

Em 2008 a Pastoral da Juventude, Pastoral da Juventude do Meio Popular, Pastoral da Juventude Estudantil e Pastoral da Juventude Rural, reunidas na 15ª. Assembléia Nacional das Pastorais da Juventude do Brasil assumiram como bandeira a luta contra a violência e o extermínio de jovens.

As Pastorais da Juventude do Brasil, nesse dia nacional da juventude, convocam a todos e todas para se colocarem em marcha contra a violência e o extermínio de jovens.

Avancem juventude, marchem, denunciem, gritem, somos fortes, somos esperança, somos rebeldia, somos a mudança!


Brasília, 19 de outubro de 2009.
Silvano da Silva

Chega de violência e exterminio dos jovens

Limitar a propriedade em defesa da vida da juventude

O tema do limite da propriedade toca diretamente este assunto. Com o ascenso da modernidade e da pós modernidade, a cidade fora cada vez mais tornando-se referência A Pastoral da Juventude do Brasil lançou importante campanha que trata do Extermínio de Jovens. É um grito forte em defesa da vida da juventude cada vez mais vulnerável em grandes centros urbanos e no interior do país sofrendo com a criminalização juvenil e sendo assassinada por diferentes mecanismos de repressão, desde a morte física ao abandono em relação às políticas públicas para a juventude. A morte do jovem padre e assessor da Pastoral da Juventude no Brasil, Gisley, traz a tona o tema que não poderá ser esquecido enquanto houver um jovem tombando neste país.
O tema do limite da propriedade toca diretamente este assunto. Com o ascenso da modernidade e da pós modernidade, a cidade fora cada vez mais tornando-se referência, não somente à juventude, mas a cultura camponesa paga o preço pelo esvaziamento nos últimos quarenta anos de políticas relacionadas a sobrevivência a partir do campo. Para a juventude ainda pior, se quiser estudar e ter acesso aos mecanismos de lazer, esta cada vez mais tem que deixar o campo e ir embora para a cidade.
Com o bum tecnológico a partir dos anos 1990, ainda mais o campo brasileiro vai sendo isolado e a juventude sempre mais expulsa para as periferias das grandes cidades brasileiras. A monocultura e o agronegócio vão descaracterizando a cultura camponesa e as pequenas propriedades vão sendo oprimidas por um sistema que favorece sempre mais a grande propriedade. Há também um envelhecimento do campo, com os filhos longe do campo, famílias inteiras vendem ou abandonam a pequena propriedade para irem embora para a cidade. Oportunidade única para que latifundiários aumentem ainda mais suas posses comprando ou arrendando pequenas propriedades muitas vezes com valores bem abaixo do estimado.
Segundo dados do IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) de 2006, no conjunto dos municípios com mais de cem mil habitantes, o valor médio de vidas de adolescente perdidas por causa de homicídios foi de aproximadamente dois para cada grupo de cem adolescentes de 12 anos. Nos dados de 2006, em Foz do Iguaçu, cidade paranaense localizada na fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina, estima-se que num período de sete anos cerca de quinhentos jovens entre 12 e 18 anos sejam assassinados, o maior índice do Brasil.
A vulnerabilidade social nas periferias ataca diretamente a juventude, que paga o preço caro da não existência de políticas públicas que possam apontar para uma melhora de vida, no sentido da qualidade de vida. Expostos a violência, ao tráfico e a uma série de ameaças que estão presentes desde as grandes cidades de nosso país a cidades menores como Marabá no Pará com cerca de duzentos mil habitantes, onde se estima que em sete anos cerca de duzentos jovens entre 12 e 18 anos serão assassinados.
Deste modo percebemos a necessidade de focalizarmos sempre mais o campo como espaço de vida. A pequena propriedade deverá ser valorizada, para que nossas vulnerabilidades sociais em relação à juventude sejam superadas. É preciso investir em políticas públicas para que nossos filhos e filhas consigam sempre mais permanecer no campo, não como sujeitos isolados, mas com acesso a mecanismos importantes como educação, saúde, lazer, entre outros.
É preciso perceber que com o limite da propriedade novas relações sociais deverão ressurgir. Pequenas comunidades, grupos de famílias morando umas próximas das outras vão resgatando um estilo de vida mais comunitário e fraterno de se viver.
Assim a cultura camponesa vai se ressignificando e a juventude camponesa ganha sentido, pois consegue ser feliz mesmo morando fora da cidade. E por ter acesso a transportes e estradas consegue acessar os centros urbanos com facilidade. Esse é nosso sonho: que a vida da juventude, seja a vida da terra, da água e de todo planeta, para que tenhamos um futuro com vida digna para todos, onde a produção continue alcançando a mesa de todos os brasileiros e que terra não seja mercadoria, mas seja lugar de vida e não de extermínio.

por Renato Munhoz,
especialista em Adolecência e Juventude, da Equipe do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra Paraná
Fonte: http://www.limitedaterra.org.br/noticiasDetalhe.php?id=212

Campanha contra o exterminio dos jovens

Reaja! A juventude está morrendo


As condições desumanas e a desigualdade social em que vivem a nossa sociedade resultam numa situação crítica de violência, para combatê-la é preciso cortar a sua raiz que está na injustiça social. A juventude é violentada de diversas maneiras: quando a sociedade não acredita no/a jovem, quando a mídia exibe apenas dois perfis juvenis (o sarado da Malhação e o malandro da favela), quando as jovens mulheres são abusadas e desvalorizadas, quando a juventude negra é humilhada, quando os apelos da propaganda fogem completamente das condições permitidas, mas a forma de violência mais cruel hoje em dia é o extermínio da juventude. A cada dia mais um corpo, mais um sonho, mais uma possibilidade de mudança aparece morto no chão das periferias do país, os jovens que morrem, têm sexo, endereço e raça.

O Estado que não garante a juventude oportunidades de educação digna, emprego, lazer e saúde, é o mesmo Estado que, na maioria das vezes, tem colocado na prática a pena de morte. Alguém poderia me responder por que matar é mais fácil do que educar? Do que amar? Do que oferecer ao jovem a oportunidade de sonhar? Chega dessa matança, a juventude quer viver, a juventude quer encontrar o lugar onde mora a felicidade. Precisamos agir, não fiquemos apenas rezando pela paz, vamos lutar, vamos buscar parcerias para oferecer a juventude oportunidades para viver dignamente.

Devemos combater o narcotráfico, que se alimenta da miséria do nosso povo. É na camada mais pobre e excluída que ele vai buscar sua mão-de-obra. E para muitos jovens negros e pobres que não são amparados pela sociedade, o narcotráfico representa uma forma de sobrevivência e de valorização pessoal. O vigor, a criatividade, a força e o poder de inovação que são próprios da juventude devem ser canalizados para a arte, a cultura, o esporte, a educação, a tecnologia, a preservação do meio ambiente e não para a violência.

Queremos uma sociedade justa, mais igual, onde ninguém seja discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, orientação sexual, atividade profissional, religião, convicção política, filosófica, deficiência física, mental, sensorial, aparência pessoal, ou qualquer singularidade ou condição social, ou ainda por ter cumprido pena.
Não podemos nos calar diante de uma situação de violência tão alarmante. É assustador saber que a cada dia mais de cem pessoas morre no Brasil vítimas da violência, totalizando 50 mil mortes por ano. A ONU considera que um país está em guerra civil quando o número de mortos por violência atinge a cifra anual de 15 mil.

Chega! Basta! Se não reagirmos agora, mais jovens morrerão e mais longe estará a possibilidade de revolucionarmos o mundo, porque essa é uma tarefa, indiscutivelmente, da JUVENTUDE.

Basta! Chega de violência e extermínio de jovens!

A Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens é uma ação proposta pelas Pastorais da Juventude do Brasil, a fim de promover uma cultura de paz em defesa da vida das juventudes, lançada no ano passado no encontro Nacional de Fé e Política, encontro este que agrega diversos atores políticos e líderes das organizações do cristianismo no Brasil.

A demanda emerge da realidade do universo social que localiza o jovem como principal alvo de violência no Brasil. Sendo que, pretende agregar os setores do governo e da sociedade civil para pautar as discussões sobre a pluralidade desta juventude, entendida não somente pela faixa etária, mas a partir de vários símbolos, esteriótipos e expressões que variam com o tempo, com as formas de interação e com o espaço, e principalmente validar a defesa de que o jovem não é tão somente promotor de violência, mas que, sobretudo é um passivo deste processo.

A violência deve ser assumida como um problema de todos/as, pois é manifestada principalmente a partir da ausência de diálogos. Sendo assim, os espaços institucionais como a família, a escola, e outros, devem repensar as suas práticas sociais para findar com a promoção e difusão de suas manifestações, seja verbal, física, psíquica ou simbólica. Lembrando de que a violência surge justamente a partir da incapacidade de aceitar o posicionamento de outrem.

Para muitos/as a única linguagem que é conhecida é a violência. Portanto, partindo dessa afirmativa, constatada nos processos educativos, precisamos enfrentar e não cooperar com as ações de humilhação (chacotas, piadinhas, preconceito, discriminação, violência física, etc;), pois com a presença destes aspectos, todos perdem ninguém é ganhador.

Para isso, é importante se reconhecer neste processo, e a partir deste avanço de reconhecimento, é necessário agir novamente alterando as ocorrências advindas da própria autonomia (liberdade de escolha), na qual, somente cada sujeito é que poderá identificar.

Quando trabalhamos no âmbito deste público, o que se pauta é justamente a idéia de que os jovens consigam exercer o direito de expressão e de serem ouvidos. Com isso, saem do anonimato simbólico e passam a exercer um papel ativo na sociedade. Além disso, a rebeldia que antes era taxada como pejorativa, ganha um status de desabafo desta juventude, e com isso passamos a indagar: Com as manifestações de atos rebeldes, o que esta juventude quer comunicar?

O adulto neste processo é uma referência ao jovem, uma vez que possui uma vivência em tempo maior. O que é válido ressaltar nesta interação, é justamente a necessidade de não haver uma disputa de forças, mas um diálogo, onde ambas as partes, os contextos, os tempos e desejos devem ser considerados, mesmo aqueles que não sejam sadios ou quistos. O que se deseja é justamente a promoção de um amadurecimento e confronto de idéias.

A cultura de paz não se instala momentaneamente, e com isso é necessário uma implicação contínua. Afinal, como devemos enfrentar a violência? Enfrentar quem? Como?

É válido lembrar que a violência não é natural, ou seja, não nascemos com ela, contudo, as relações de interação com o mundo e com os outros sujeitos é que determina e instala tal dimensão.

Se combatermos o agressor, em vez de combatermos a agressão, perdemos a oportunidade de estabelecer uma nova relação com o outro. [1] Portanto, além de percebermos as diversas dinâmicas da violência, devemos pensar esta dimensão a partir de ângulos diferentes, mais amplos e mais críticos.

Por exemplo: pensar numa ação de um maníaco ou num estuprador e seu ato de agressão/violência é pensar também nos aspectos deste sujeito “enquanto humano” e não simplesmente criminalizá-lo ou devolver em forma de violência (ou até mais violenta) os seus atos. É pensar complexamente quais as lacunas do seu processo de formação, processo afetivo, processo ético, que muita das vezes é seqüenciado de frustrações e também de agressões, ou até mesmo de negações.

Portanto, pensar em condenar somente o agressor de um ato é reduzir a cena da opressão. Por isso, é necessário pensar qual o suporte de tal cena, tais como: o impacto da herança da pobreza social na sua vida; a ausência de políticas de promoção; as regularidades e disciplinas do cotidiano; para que a partir daí, sim, o ato seja compreendido em sua conjuntura.

Paulo Freire em pedagogia da autonomia enuncia que precisamos nos reconher enquanto sujeitos condicionados, mas não determinados. Ou seja, reconhecer que a história é tempo de possibilidade e não de determinismo. Reconhecer de que somos seres inacabados e incompletos e que precisamos uns dos outros para termos plenitude.

A periferia por sua vez é sinal presente da herança da pobreza no Brasil, e sua identidade cada vez mais é negada e rotulada. Sendo assim, quando a periferia é negada pela sua identidade, marcada principalmente pela ausência de garantia de direitos, logo estes aspectos são incorporados aos seus sujeitos, que não conseguem inclusive um emprego por oferecer risco à sociedade, determinismo este advindo do seu território de moradia.

Que sociedade é esta? Este sujeito não faz parte da mesma sociedade? escolheu morar ali? E a mídia que hoje é uma das principais formadoras de opinião reforça este lugar, o criminalizando cada vez mais e afirmando este lugar sempre às margens, proliferando a invisibilidade dos potenciais, das lutas, das conquistas, das formas de resistência etc; que apresentam um outro lugar diferente do que é trazido pela TV.

Uma das chaves para a superação destes problemas sociais, é justamente se apropriar das capacidades e potencialidades de determinada comunidade. Portanto, por que não aparecem estes aspectos na mídia? Comprometeria o sistema que está posto?

Da mesma maneira, a rebeldia juvenil, propícia por sinal, também é apresentada por sua forma pejorativa, que logo é incorporada pelo senso comum, e que muita das vezes repetimos sem ao menos perceber, pois se torna natural. Com isso, as posturas da juventude ficam restritas a um recorte que se apresenta com mais intensidade, e uma outra parcela desta juventude, ou talvez a maioria, se quer, é pautada.

Por isso, pautar as discussões sobre a rebeldia (resposta/expressão a cerca do processo de interação), é incorporar aspectos que interessam e interferem na vida de todos nós, como por exemplo, as indagações: como uma juventude pode sentir prazer e vontade de estudar nas estruturas e nas motivações que se encontram nas redes de ensino? Como um jovem pode desabafar sobre seus desejos e sonhos, se a mídia de grande massa já determina que essa juventude só deseja droga, sexo e rock rool? Como valorizar o comunitário, se o sistema financeiro e produtivo que se encontra é um sistema que quer a individualidade (uma TV, um telefone, um computador para cada um, etc;), como questionar uma mídia que é inquestionável?

Portanto, pensar no sujeito jovem não é simplesmente pensar numa faixa etária, mas numa série de aspectos que são determinantes para o nosso presente e para o nosso futuro. E é válido relembrar que o futuro não é responsabilidade somente dos jovens e das crianças, mas se dará a partir das nossas ações do presente, por isso é responsabilidade de todos nós.

Pensar em políticas públicas voltadas para a juventude, ou numa campanha contra o extermínio, é pensar num diálogo horizontal entre governo e sociedade civil, para que juntos/as asseguremos minimamente os direitos básicos para a sobrevivência, como a educação, o trabalho, a alimentação, a moradia, etc; e principalmente dizer um basta para as lacunas sociais que contribuem para a desestruturação familiar, para uma ausência de espaços para interação, sociabilidade e amadurecimento de idéias. Além disso, espaços que defendam a vida e que promovam a formação humana.

Basta! Chega de violência e extermínio de jovens!



Sebastião Everton de Oliveira - Coordenador Pedagógico Programa PROJOVEM adolescente - Santa Luzia / MG - (031)3635-8397 // (031)8765-7690


[1] DISKIN, Lia; ROINSMAN, Laura Gorresio: Subsídio – Paz como se faz – UNESCO 2002.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cartaz do grito dos excluidos 2010

Vida em primeiro lugar: Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas para construir um projeto popular.

2010

Lemas do Grito dos/as Excluídos/as

 

Assim mantemos a divisão feito pelo Pe. Alfredinho em três fases de acordo com a temática abordada: a primeira vai de 1995 a 1997; a segunda, de 1998 a 2001; a terceira, de 2002 e 2007.

A primeira fase inclui os seguintes lemas: A vida em primeiro lugar (1995); Trabalho e terra para viver (1996); Queremos justiça e dignidade (1997). As três frases agrupam-se em torno de um pano de fundo mais ou menos determinado, que é a defesa da vida e dos direitos humanos. O direito ao trabalho e à terra apontam para uma vida com justiça e dignidade. Em poucas palavras, o Grito nasce numa perspectiva de lutar pela conquista das condições mínimas de sobrevivência. Evidencia-se deste modo a preocupação inicial com os direitos humanos básicos, sem os quais não é possível garantir a vida e preservar a dignidade da pessoa.
O segundo grupo de lemas, correspondente à segunda fase, inclui: Aqui é meu país (1998); Brasil: um filho teu não foge à luta (1999); Progresso e vida, pátria sem dívidas (2000); Por amor a essa pátria Brasil (2001). Transparece nestes quatro anos uma temática que, nesse mesmo período, tornou-se cara aos movimentos sociais e entidades da sociedade civil organizada: o debate em torno de um Projeto Popular para o Brasil. Daí a insistência das palavras país, pátria e Brasil. Estava em jogo a busca de uma cidadania consciente e ativa, que superasse o patriotismo passivo do 7 de setembro. Era preciso ampliar o debate, estendê-lo aos mais diferentes setores da população, abrir canais de participação.
Não podemos esquecer, também, que foi durante esta fase, em 1999, que o Grito ultrapassou as fronteiras do país. Surge El Grito Continental de los Excluídos/as, Por trabajo, justicia y vida, abertura que nos introduz na terceira fase. O terceiro e último agrupamento inclui apenas dois lemas: Soberania não se negocia (2002); Tirem as mãos… o Brasil é nosso chão (2003); Brasil: mudança pra valer o povo faz acontecer (2004); Brasil Em Nossas Mãos a Mudança (2005); Brasil: na força da indignação sementes de transformação (2006); Isto não VALE! Queremos participação no destino da nação (2007). O conceito de soberania pressupõe relações internacionais, em que cada país procura manter sua postura de país livre e autônomo. Quanto à expressão “tirem as mãos”, por tão óbvia e explícita, dispensa maiores comentários. Se a primeira fase chamava a atenção para os direitos fundamentais à vida e a segunda alertava que a vida dos cidadãos requer um projeto de nação, a terceira procura olhar o Brasil no contexto internacional da economia globalizada. De fato, os dois temas apelam para a necessidade de uma nação independente. A noção de soberania e a frase tirem as mãos, combinadas, apontam para a autonomia do povo brasileiro frente às novas relações mundiais e à cobiça dos países centrais. A escolha dessas temáticas explica-se, além disso, pela ofensiva imperialista norte-americana, especialmente sob o governo Bush. Em poucas palavras, é preciso defender as riquezas naturais do Brasil e a vida dos brasileiros e brasileiras dos ataques de um neoliberalismo cada vez mais exacerbado.

A mídia

Uma das formas de olhar para o Grito a partir da mídia escrita é consultar os dossiês organizados pela secretaria. Torna-se igualmente importante acompanhar as imagens e reportagens do 7 de setembro pela televisão e pelo rádio. Também neste caso não será difícil constatar uma certa evolução na avaliação que os diferentes veículos midiáticos fazem do Grito.
Para começar, nos primeiros anos do Grito, verifica-se uma certa surpresa e perplexidade diante desses “intrusos” que resolvem sair às ruas justamente no Dia da Pátria. Quem são esses que ousam perturbar o colorido da festa cívica? De onde saíram esses “blocos” tão estranhos? O que representam e o que fazem aqui? Será que este é o lugar para essa gente?! Na medida que o Grito, em muitos lugares, disputava ou se contrapunha ao espaço dos desfiles oficiais, a surpresa e perplexidade vinha acompanhada de duras críticas.
Entretanto, embora alerta para esses “estranhos” que teimavam em ocupar as ruas, a mídia de certa forma conformava-se. Tratava-se, afinal, de um evento episódico, sem maiores conseqüências. Sem dúvida tirava o brilho dos festejos oficiais, mas semelhante atrevimento não podia ter vida longa. Os jornais não podiam tapar o sol com a peneira, não podiam ignorar por mais tempo as manifestações do Grito. Mas também não acreditavam que tamanha ousadia pudesse repetir-se todos os anos. O Grito era visto como um movimento momentâneo que logo se extinguiria.
O fato é que a cada 7 de setembro lá estavam os “intrusos” outra vez! Com isso, à medida que o Grito cresce em número de manifestações e de manifestantes e à medida que se expande por todo o território nacional, os temores também aumentam. “O Grito roubou a cena” passa, então, a ser a manchete explícita ou implícita de não poucos veículos de comunicação. De fato, de ano para ano o crescimento do Grito nas ruas traduz-se por igual crescimento no espaço da mídia. As mobilizações populares passam a disputar jornais e revistas com os desfiles oficiais. Não é raro ver impressas, no dia 8 de setembro, as fotos das autoridades nos palanques das festas oficiais, lado a lado com as fotos das bandeiras e manifestações do Grito. Também nos noticiários televisivos, progressivamente, as imagens do Grito vão tomando o lugar das imagens de tanques, carros blindados, desfiles de soldados e escolares e dos políticos. Em muitos lugares o povo que assiste às comemorações oficiais acostuma-se a esperar pelo “bloco” dos excluídos.
É então que a grande mídia passa a um ataque mais sistemático a tamanha ousadia. Onde se viu perturbar assim a festa oficial? Não que desde 1995 não se verificasse hostilidade aos organizadores do Grito. Na verdade, sempre as houve, mas era uma hostilidade um tanto quanto dissimulada. Agora, ao contrário, nota-se uma crítica mais contundente e orquestrada. Na medida em que se constata que o Grito veio para ficar, cresce a perseguição da imprensa, da mesma forma que cresce a prevenção dos órgãos de repressão. Não poucas vezes tem havido confronto com a polícia e até prisão daqueles que coordenam as diversas atividades.

Por que o grito dos excluidos é dia 7 de setembro?

Por que 7 de setembro?

Desde 1995 foi escolhido o dia 7 de setembro para as manifestações do Grito dos Excluídos. A idéia era aproveitar o Dia da Pátria para mostrar que não basta uma independência politicamente formal. A verdadeira independência passa pela soberania da nação. Um país soberano costura laços internacionais e implementa políticas públicas de forma autônoma e livre, não sob o constrangimento da dívida externa, por exemplo. Relações economicamente solidárias e justiça social são dois requisitos indispensáveis para uma verdadeira independência.
Nada melhor que o dia 7 de setembro para refletir sobre a soberania nacional. É esse o eixo central das mobilizações em torno do Grito. A proposta é trazer o povo das arquibancadas para a rua. Ao invés de um patriotismo passivo, que se limita a assistir o desfile de armas, soldados e escolares, o Grito propõe um patriotismo ativo, disposto a pôr a nu os problemas do país e debater seriamente seu destino. É um momento oportuno para o exercício da verdadeira cidadania.

Quais as principais lições do Grito dos Excluídos?

Chamamos a atenção para sua abertura a todos aqueles que se propõem defender a causa das populações deixadas à margem da história e da vida. O Grito não tem dono: embora nascido no contexto da Igreja, é uma iniciativa levada adiante por várias forças da sociedade civil organizada. A organização e os debates privilegiam o diálogo plural, ecumênico e democrático. O Grito abriu caminho para uma série de parcerias em que diferentes atores sociais trabalham em conjunto, o que ajuda a superar o isolamento, o corporativismo e a fragmentação de esforços.
A seguir, convém ressaltar a criatividade que o Grito possibilita. Apesar de contar com uma coordenação nacional e com determinados eixos centrais para a temática de cada ano, a organização permanece aberta à iniciativa própria das diversas regiões e localidades. Deste modo, o tema geral se enriquece com a contribuição de temas específicos, o que torna as manifestações mais ricas e coloridas. Foi assim que, em 1999, o Grito ultrapassou as fronteiras do Brasil e é realizado em vários países das Américas, surgindo el Grito Continental Por Trabajo, Justicia y Vida.
Vale sublinhar, ainda, a metodologia e a linguagem adotada pelos organizadores do Grito, que chamamos Articuladores que são elo entre a Secretaria Nacional e os Estados, o papel é fundamental para construção do grito por todos os cantos do Brasil. Privilegia-se não tanto a comunicação verbal, abstrata ou conceitual, mas o gesto, a coreografia, a ação, a simbologia. Os manifestantes gritam não apenas com a voz, mas, sobretudo com as mãos e o corpo. Quanto à metodologia, ganha especial destaque a participação popular. Aqui há limites que o Grito ainda precisa superar: como passar de um grito para os excluídos a um grito dos excluídos? Em outras palavras, como fazer com que os próprios excluídos organize as atividades e tomem as decisões? Esse tem sido o grande desafio de seus dez anos.
Por fim, nos anos de 2000 e 2002, o Grito foi realizado em conjunto com dois plebiscitos populares, o primeiro sobre a dívida externa e o segundo sobre a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Foram iniciativas das mais bem sucedidas em termos de participação popular. Envolveram mais de 120 mil agentes, militantes e lideranças, ocorreram em todos os estados e em mais de 3 mil municípios e levaram às urnas, respectivamente, acima de 6 e de 10 milhões de votantes. Em 2007, no dia 07 de semtembro, irá ser realizado em conjunto com o Plebiscito pela Anulação do Leilão de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, a Vale foi privatizada em maio de 1997, ou seja, vendida por R$ 3,3 bilhões, o lucro de 2005 foi de R$ 12,5 bilhões de reais. Tais consultas populares contribuem para o exercício concreto da democracia.

Quais os horizontes do Grito?

Sabemos que no Brasil, como de resto em todo continente latino-americano, não raro o conceito de liberdade foi reduzido à idéia de libertação: libertação da opressão, da ditadura militar, da pobreza e assim por diante. Nos meios eclesiais, por exemplo, com freqüência faz-se alusão à experiência narrada pelo Livro do Êxodo, quando os escravos se libertaram das garras do Faraó. Ora, esse é apenas um lado da moeda, isto é, a liberdade de. O outro lado é a liberdade para. Depois da saída do Egito, é preciso unir forças para continuar caminhando até a Terra Prometida. E aqui o conceito de liberdade se torna bem mais exigente. Se é relativamente fácil saber o que não queremos, costuma ser bem mais difícil saber e explicitar o que queremos.
Os movimentos sociais nasceram, em geral, numa oposição direta aos regimes de exceção que, em maior ou menor grau, dominaram por décadas diversos países da América Latina. O combate frontal à ditadura imprimiu nas lutas de oposição, de forma acentuada, a marca da crítica e do não. A urgência em superar o domínio militar deixou pouco espaço para aprofundar os contornos de uma via democrática viável, sólida e duradoura.
Nesta perspectiva o Grito dos Excluídos tem como finalidade não apenas a crítica do modelo neoliberal, mas também a preocupação propositiva de buscar alternativas. Daí seu duplo caráter, de protesto e afirmação, de denúncia e anúncio. Em síntese, seu horizonte último é abrir canais para a construção do Brasil que queremos, e no contexto atual, dizer o que Não Vale e o que Vale para a construção e participação no destino da nação.

Como nasceu e quem promove o Grito dos Excluídos?

Como nasceu e quem promove o Grito dos Excluídos?

O Grito nasceu de duas fontes distintas, mas, complementares. De um lado, teve origem no Setor Pastoral Social da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), como uma forma de dar continuidade à reflexão da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo lema – Eras tu, Senhor – abordava o tema Fraternidade e Excluídos.
De outro lado, brotou da necessidade de concretizar os debates da 2ª Semana Social Brasileira, realizada nos anos de 1993 e 1994, com o tema Brasil, alternativas e protagonistas. Ou seja, o Grito é promovido pela Pastoral Social da Igreja Católica, mas, desde o início, conta com numerosos parceiros ligados às demais Igrejas do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), aos movimentos sociais, entidades e organizações.
Nos dois casos, podemos afirmar que a iniciativa não é propriamente criada, mas descoberta, uma vez que os agentes e lideranças apenas abrem um canal para que o Grito sufocado venha a público. A bem dizer o Grito brota do chão e encontra em seus organizadores suficiente sensibilidade para dar-lhe forma e visibilidade.

Por que Grito dos Excluídos?

O pressuposto básico do Grito é o contexto de aprofundamento do modelo neoliberal como resposta à crise generalizada a partir dos anos 70 e que se agrava nas décadas seguintes. A economia capitalista globalizada, a precarização das relações de trabalho e a guerra por novos mercados geram massas excluídas por todo o mundo, especialmente nos países periféricos.
Os movimentos sociais reagem. No Brasil, as Igrejas cristãs juntamente com outros parceiros promovem na década de 90 as Semanas Sociais. Cresce a consciência das causas e efeitos da exclusão social, como o desemprego, a miséria e a violência, entre outros. O fruto amadurece e nasce o Grito dos Excluídos. Trata-se de uma forma criativa de levar às ruas, praças e campos o protesto contra esse estado de coisas. Os diversos atores sociais se dão conta de que é necessário e urgente dar visibilidade sócio-política à indignação que fermenta nos porões da sociedade, os excluídos/as. Se o mercado tem o direito de dobrar as autoridades políticas com seu “nervosismo”, os setores marginalizados da população também podem e devem tornar pública sua condição de excluídos.

Grito dos excluidos.

O que é

O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos.
O Grito dos Excluídos, como indica a própria expressão, constitui-se numa mobilização com três sentidos:
  • Denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo, concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão social;
  • Tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome;
  • Propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos.
O Grito se define como um conjunto de manifestações realizadas no Dia da Pátria, 7 de setembro, tentando chamar à atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira. Não é um movimento nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças.
As atividades são as mais variadas: atos públicos, romarias, celebrações especiais, seminários e cursos de reflexão, blocos na rua, caminhadas, teatro, música, dança, feiras de economia solidária, acampamentos – e se estendem por todo o território nacional.

Para iniciarmos a apresentação, se faz necessário dizer o que é o Grito dos Excluídos

O Grito dos Excluídos é uma iniciativa que se compõe de uma série de eventos e mobilizações que se realizam ao redor da Semana da Pátria, ou seja, de 01 a 06 finalizando-se no dia 07 de setembro, ou um pouco antes, isso depende da realidade local. Não se trata exatamente de um movimento, uma campanha ou uma organização, mas de um espaço de convergência em que vários atores sociais que se juntam para protestar e propor caminhos novos. As principais manifestações ocorrem no Dia da Independência, pois seu eixo fundamental gira em torno da soberania nacional. O objetivo é transformar uma participação passiva, nas comemorações dessa data, em uma cidadania consciente e ativa por parte da população.
Contudo o Grito dos Excluídos não se limita nas ações do dia 07 de setembro. De ponta a ponta do país, podemos subdividir as atividades em um antes, um durante e um depois. Um antes, se nos atemos às reuniões da coordenação nacional, ao encontro dos articuladores, à preparação do material, à divulgação e organização e a uma série de eventos que se destinam à preparação dos agentes e lideranças; um durante quando as ruas e praças das principais cidades do Brasil, com destaque para o Santuário de Aparecida, em São Paulo, onde o Grito e Romaria dos Trabalhadores fazem uma grande parceria. Essas manifestações se enchem de manifestantes, de gritos e de utopia; um depois, no sentido de avaliar e garantir a continuidade das ações, numa espécie de fio condutor que une num único processo os Gritos realizados nesses rincões afora dede grande Brasil.

domingo, 15 de agosto de 2010

Vocação Religiosa

Bobos felizes? - Dom Pedro José Conti


“O habito não faz o monge”, diz o provérbio, mas sem dúvida chama um pouco, ou muita, atenção. Talvez uma criança curiosa tenha nos incomodado com perguntas inocentes querendo saber: por que aquela pessoa estava vestida daquele jeito? Claro que podemos sair da pergunta com uma resposta curta e grossa: é uma freira, é um frei. E se a criança insistir, querendo saber mais, saberíamos responder à altura e com gosto? Ou nos esconderíamos atrás do banal “deixa pra lá”, equivalente a não saber ou ao não querer responder?
Tenho certeza: digam o que quiserem, finjam  não ver, ignorem a presença deles e delas, mas os religiosos e as religiosas chamam atenção. Não porque queiram isso. Mas, ou por usarem o hábito, ou pelo jeito, obrigam-nos a perguntar porque eles e elas escolheram aquela forma de viver. Por quê?
Insisto sobre os questionamentos pelo fato de  a vida religiosa também ter mudado. A freira que anda pelas casas do bairro pobre, é formada em pedagogia e está estudando ciências sociais. O monge, que abre a porta do convento e acolhe os mendigos, é mestre em letras pela PUC de São Paulo. O frei que anda de bicicleta, evitando os buracos e a lama da periferia, é advogado. A irmãzinha, que cuida da creche, é enfermeira diplomada e continua estudando medicina de noite. O irmão, que está no acampamento dos sem-terra, é doutor em teologia. E assim poderíamos continuar.
Quem tem uma imagem dos irmãos e das irmãs como de “coitadinhos” meio perdidos e fora do tempo, está muito enganado. Não somente porque eles e elas, hoje, estudam mais, mas porque continuam sabendo muito bem o que querem. Eles têm um grande projeto de vida. Querem ser felizes vivendo o Evangelho. Querem contribuir com a sociedade de hoje, seguindo as pegadas de Jesus Cristo.
Se a vida religiosa podia parecer, no passado, um refúgio para ter uma “certa” tranqüilidade, ou uma fuga por medo das coisas perigosas do mundo, hoje é exatamente o contrário. Vida religiosa não é para pessoas fracas. É cada vez mais exigente. O celibato para o Reino de Deus e a virgindade consagrada, dizem, são coisas para sexualmente frustrados. A pobreza é considerada excesso de loucura e inaptidão administrativa. A obediência, uma inútil inibição dos projetos pessoais, uma afronta à liberdade individual. Essas coisas são bobagens, claro, mas só para os acomodados, os que ficam alucinados e iludidos pelas coisas do mundo, para os que adoram encontrar defeitos nos outros e só sabem criticar. Por isso, a vida religiosa sempre será questionada e sempre chamará atenção. O caminho é difícil e a porta estreita. É preciso empurrar para entrar, não é para todos.
Se não entendemos tudo isso, ou não sabemos responder bem às perguntas acima, tenhamos ao menos o bom senso de não falar à toa e, quem sabe, aprendamos a agradecer a essas pessoas, que pagam com a própria vida as suas escolhas. Se não fosse assim, a Irmã Dorothi não teria morrido. O Padre Bossi, do PIME, não teria sido seqüestrado, lá nas Filipinas. Os religiosos e as religiosas podem ter muitos defeitos, como todos, mas não são nem bobos e nem ingênuos.
A chamada crise da vida religiosa pode ser pela quantidade, com certeza não é pela qualidade. Talvez aos jovens, hoje, falte coragem. Estão sendo vencidos pelo medo de seguir, até o fim, o projeto de Jesus. Sentem medo de parecer diferentes ou de incomodar aos outros; de começar a mudar a história, mudando a própria vida. Por isso Jesus repetiu tantas vezes aos discípulos: não tenham medo… E o repete ainda em nossos dias. Para nós todos.
                           
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

sábado, 7 de agosto de 2010

Jorge Trevisol. Certas coisas pra dizer

Vou falar certas coisas
Que o coração não diz
Se não amaar a verdade
E se alma não for feliz
É q a vida tem certas coisas
Reservadas só pra depois
Quando a gente se encontrar com outras
Que também conheceram o amor
E não há sentimento escondido
Que não venha provar seu valor
Uns confundem eu outros consolam
Eles vê pra dizer quem eu sou.

Vou lembrar outra coisa
Que também aprendi
Fechando os olhos da alma
E sem querer resistir
Não há nada sereno e seguro
Que não tenha passado por Deus
Mesmo quando o caminho é escuro
Há uma luz apontando pra céu
Basta olhar como surgem as coisas
Onde é q elas vão terminar
Se é o amor quem conduz seu destino
Elas são portadoras de paz.

Tenho enfim outra coisa
Que não posso esquecer
Mesmo sem ter certeza
Mas eu preciso dizer

O que eu penso a respeito da via
É que um dia ela vai perguntar
O que é que eu fiz com meus sonhos?
E qual foi o meu jeito de amar?
O que eu é que eu deixei pras pessoas
Que no mundo vão continuar?
Pra que eu não tenha vivido a toa
E que não seja tarde demais

Vou falar certas coisas
Que o coração não diz
Se não amaar a verdade
E se alma não for feliz
É q a vida tem certas coisas
Reservadas só pra depois
Quando a gente se encontrar com outras
Que também conheceram o amor
E não há sentimento escondido
Que não venha provar seu valor
Uns confundem eu outros consolam
Eles vê pra dizer quem eu sou.

Vou lembrar outra coisa
Que também aprendi
Fechando os olhos da alma
E sem querer resistir
Não há nada sereno e seguro
Que não tenha passado por Deus
Mesmo quando o caminho é escuro
Há uma luz apontando pra céu
Basta olhar como surgem as coisas
Onde é q elas vão terminar
Se é o amor quem conduz seu destino
Elas são portadoras de paz.

Tenho enfim outra coisa
Que não posso esquecer
Mesmo sem ter certeza
Mas eu preciso dizer

O que eu penso a respeito da via
É que um dia ela vai perguntar
O que é que eu fiz com meus sonhos?
E qual foi o meu jeito de amar?
O que eu é que eu deixei pras pessoas
Que no mundo vão continuar?
Pra que eu não tenha vivido a toa
E que não seja tarde demais

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O mesmo rosto

O mesmo rosto
Jorge Trevisol

Dizem que o sol, deixou de brilhar
Que as flores mais belas não perfumam mais
Os jovens teriam deixado de amar
De crer na esperança de poder mudar
Que as lutas e os sonhos o vento espalhou
E que envelheceram as forças do amor

Se fosse assim que digam vocês
De quem é o rosto que ainda sorri
De quem é o grito que nos faz tremer
Defendendo a vida, o modo de ser
De quem são os passos marcados no chão
Unindo o compasso de um só coração

Enquanto existir um raio de luz
E uma esperança que a todos conduz
Existe a certeza, plantada no chão
Ternura e beleza não acabarão
Pois a juventude que sabe guardar
Do amor e da vida não vai descuidar

O rosto de Deus é jovem também
E o sonho mais lindo é ele quem tem
Deus não envelhece, tampouco morreu
Continua vivo no povo que é seu
Se a juventude viesse a faltar
O rosto de Deus iria mudar

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

TERAPIA

Quando eu chegar sem nada dizer e permanecer em silêncio, por favor, entenda que só quero estar perto de você.

Se notar que estou a ponto de chorar, não me diga "não chore ".
Deixe que as lágrimas venham e perceba que eu só não escondo meu pranto de você.
Se eu lhe disser que estou muito triste, por favor, não diga
" não fique assim ".
Deixe que a tristeza se esgote em mim e entenda que para você não preciso fingir.
Quando eu chegar com muita raiva de alguém,
não tente me convencer que estou errando.
Por favor, deixe que eu descubra até que ponto estou exagerando
e apoie-me enquanto eu precisar.A raiva tem seu próprio tempo para diluir-se.

Se eu começar a relatar as minhas mágoas,por favor, ouça-me,
e entenda que eu não as revelo para ninguém, a não ser para você.

Quando eu lhe exponho minhas decepções, frustrações, fracassos e tantos
sentimentos dolorosos, em outras palavras estou lhe dizendo que preciso
do seu colo, apenas do seu colo.
Por favor, recolha-me e silencio, com seu coração unido ao meu.
Quando eu baixar os olhos para o chão, não diga " olhe para cima ".
Eu posso estar procurando dentro de mim as respostas de que necessito
e, nesse momento, sua presença - tão somente a sua presença -
poderá estar ajudando-me a encontrá-las.
Quando eu aparecer com medos, inseguranças, preocupações, ansiedades e tantas outras emoções desequilibrantes, por favor, não me fale de
terapias, métodos, remédios, fórmulas prontas nem receitas de
vida.
Entenda que quando eu me abro para você - e tão somente para você -
tudo me parece mais simples, mais fácil de lidar, as nuvens se clareiam e eu consigo retornar à paz.
O que nos une é forte o suficiente para desafiar todos os limites de tolerância. Seja tolerante comigo, pois sempre o serei com você.
Quando, finalmente, eu abrir um amoroso e fortalecido sorriso, abrace-me
carinhosamente, diga " estamos juntos " e preencha-se de renovada
certeza de que quando os papéis se inverterem,
eu serei para você o que agora peço que seja para mim.
(A.D)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

São Camilo de Lelis

Hoje 14 de julho comemoramos este grande santo da Igreja Catolica.
Camilo nasceu no ano 1550 em Bucchianico, nos Abruzzos, no antigo Reino de Nápoles. Como aconteceu com São João Batista, sua mãe já era avançada em idade quando o concebeu. O pai, a serviço das armas, vivia mais nos acampamentos e campos de batalha do que no lar. Como poderia uma mãe idosa educar um menino que se tornou muito crescido para sua idade, e de um temperamento belicoso como o sangue que lhe corria nas veias?

Apesar disso, conseguiu ensinar-lhe os rudimentos da Religião. Mas, sem que ela o soubesse, a par disso o menino aprendia também o segredo dos naipes e dos dados, e aos 12 anos já era um viciado jogador.

Entre o jogo e as armas

Com a morte da mãe, Camilo entregou-se desvairadamente ao jogo, perdendo tudo o que tinha. Entrou então para o exército, onde aprendeu as virtudes e os vícios dos soldados.

om o pai, foi alistar-se no exército que a República de Veneza meritoriamente recrutava para combater os turcos muçulmanos. Mas no caminho seu pai, João de Lelis, faleceu e foi enterrado perto de Loreto. Da herança de seu progenitor, Camilo recebeu um arcabuz e uma espada; e da herança divina, uma chaga misteriosa na perna, que aparecerá sempre que necessário, para conduzi-lo ao caminho de sua futura vocação.

A fome e a miséria, e sobretudo a supuração de sua chaga, fizeram-no desistir da carreira militar. Tocado pelo exemplo de dois franciscanos, com sua modéstia e doçura, Camilo fez voto de ser um deles. Mas por causa da chaga, não foi recebido.

Acabou indo para Roma, sendo recebido no Hospital dos Incuráveis como enfermeiro, para curar a perna e ganhar algum dinheiro. Mas a paixão do jogo o perseguia, e ele fugia do hospital para ir atrás das cartas. Como incorrigível, foi expulso do hospital.

Combatia como herói, jogava como um demônio

Pensou novamente na carreira das armas e entrou, a serviço delas, em um navio veneziano que partia para o Oriente. Participou de várias batalhas, e por estar gravemente enfermo não pôde combater em Lepanto, a famosa batalha em que Nossa Senhora apareceu e deu a vitória aos católicos contra os muçulmanos.

Enquanto lutava como um herói, jogava como um demônio. Uma violenta tempestade no mar fez com que ele, assustado, se lembrasse do voto de tornar-se franciscano. Passada a tormenta, esqueceu-se novamente do voto, continuando na carreira das armas e subjugado pelo vício do jogo.

Retornou a Roma para cuidar da chaga, que lhe reaparecera na perna. Mas perdeu no jogo até a camisa do corpo. Saiu da cidade, e em Manfredônia foi recebido pelos capuchinhos. O superior do convento, notando-lhe algo de especial, falou-lhe de Deus e da vocação religiosa. Camilo, tocado pela graça, converteu-se, sendo recebido como postulante. Quando passava pela vila, conduzindo duas mulas do convento, a criançada corria atrás dele gritando: “Aí vem o São Cristóvão, aí vem o São Cristóvão!”, devido à sua elevada estatura.
Máscara mortuária do Santo, que se conserva na igreja Santa Maria Madalena, em Roma

Na escola, humildemente entre os meninos

Quis continuar seus estudos, para ordenar-se sacerdote. Como Santo Inácio de Loyola, assentou-se nos bancos escolares com os meninos, o que o tornava sobremodo notório pela sua estatura, tão mais elevada que a de seus condiscípulos.

Entretanto, não era desígnio de Deus que ele permanecesse entre os franciscanos. A úlcera reapareceu em sua perna e eles, pesarosos, o despediram.

Voltou para a Cidade Eterna, onde permaneceu durante quatro anos até a úlcera ser curada. Julgou então seu dever voltar para os franciscanos, apesar de seu confessor, São Felipe Néri, o ter desaconselhado, predizendo que a chaga se reabriria. Foi o que aconteceu, tendo Camilo que voltar ao hospital.

Ali, dedicou-se a cuidar dos enfermos, chegando a ser nomeado administrador geral do hospital. Certo dia, olhando para o Crucifixo enquanto cuidava dos doentes, exclamou: “Ah! Seria necessário aqui homens que não fossem conduzidos pelo amor ao dinheiro, mas pelo amor de Nosso Senhor; que fossem verdadeiras mães para esses pobres doentes, e não mercenários. Mas, onde encontrar tais homens?”. Começou então a ruminar o pensamento da fundação de uma Ordem religiosa para essa finalidade.
hagCamilo3.jpg (86656 bytes)
O Papa Gregório XIV erigiu a nova congregação em Ordem Religiosa, em 1591

Nasce a Ordem dos Camilianos

Logo se lhe juntaram mais quatro discípulos, com os quais ele se reunia para rezarem e meditarem juntos, e depois cuidarem dos enfermos. Era o núcleo de sua futura congregação. Nas mil e uma dificuldades que surgiram para a consecução desse fim, ele sempre encontrava consolo em Nosso Senhor crucificado, que lhe dizia: “Não temas nada, eu estarei contigo”.

Camilo terminou seus estudos e foi ordenado sacerdote, rezando sua primeira Missa em 10 de junho de 1584.

Ele foi encarregado da capela de Nossa Senhora dos Milagres, fundando ali sua Congregação. Esse pequeno núcleo inicial dividia o tempo entre a prece e o cuidado dos doentes. Iam seus membros cada dia ao grande hospital do Espírito Santo, onde consolavam os enfermos, arrumavam seus leitos, varriam as salas, faziam curativos em suas chagas e preparavam os remédios que lhes eram prescritos. Mas cuidavam especialmente de suas almas, preparando os doentes para receber os últimos sacramentos, ajudando-os com suas preces e não se separando deles senão depois de suas mortes.

Confiança absoluta na Divina Providência

A Congregação nascente, por causa de sua caridade, encontrava-se cheia de dívidas. Certo dia em que os sacerdotes estavam muito tentados por essa razão, Camilo disse-lhes que era preciso confiar na Providência, como Nosso Senhor tinha dito a Santa Catarina de Siena: “Pensa em mim, que eu pensarei em ti”. E profetizou: “Antes de um mês estaremos com todas as dívidas pagas”. E realmente, antes de 30 dias um benfeitor faleceu, deixando-lhes considerável soma.

Os Ministros dos Enfermos, como eram chamados seus filhos espirituais, aos poucos foram abrangendo outras obras de caridade. Camilo quis que eles servissem também aos doentes atacados pela peste, aos prisioneiros, aos feridos em campos de batalha e aos que estivessem morrendo em suas próprias casas.

Sixto V confirmou a Congregação em 1586 e ordenou que ela fosse governada por triênio. São Camilo naturalmente foi eleito seu primeiro superior.

Os primeiros dois mártires da caridade

Aos poucos a obra foi se alastrando pela Itália. Primeiro foi o Reino de Nápoles que convidou os camilianos a fundar uma casa. Lá eles chegaram praticamente com a peste, e entregaram-se imediatamente ao atendimento dos empestados das galeras, que ninguém desejava socorrer. Dois dos discípulos de Camilo foram vítimas de sua heróica abnegação e morreram em conseqüência de sua caridade.

Em 1590 houve uma grande carestia em toda a Itália. Os pobres foram obrigados a se alimentar de animais mortos e de ervas. São Camilo passava pelas ruas de Roma, levando pão e vestes para os necessitados. Além da fome sobreveio o frio, que foi muito rigoroso naquele ano. Conta-se que o número de mortos em Roma e arredores foi de 60 mil. Muitas vezes, Camilo entregava seu próprio manto a pobres que estavam morrendo de frio. Chegou a dar o último saco de farinha que havia no convento. Seus religiosos fizeram-lhe ver que eles próprios arriscavam-se a morrer de fome. O Santo respondeu-lhes então que os pássaros do céu não semeavam nem colhiam, e que entretanto Deus os alimentava; quanto mais a eles, que eram seus filhos. Nesse mesmo dia, um padeiro da cidade trouxe-lhes o pão necessário, prometendo que lhes traria aquele alimento diariamente, até o fim da crise.

Presença imponente, energia contra blasfemadores

Em 1591, o Papa Gregório XIV erigiu a nova congregação em Ordem religiosa com o privilégio das mendicantes, sob obrigação de fazerem os três votos: pobreza, obediência e castidade. Seus membros eram proibidos de passar para outra comunidade religiosa, exceto a dos Cartuxos.

São Camilo era de uma imponente presença. Com mais de um metro e noventa de altura, corpo bem proporcionado, cabeça ereta, olhos escuros, um véu de tristeza parecia recordar-lhe a todo momento o pesar pela vida passada. Sua voz tinha matizes graves e severos, mas ficava inteiramente transformada quando falava da caridade. Uma testemunha diz que muitas vezes viram seu rosto coberto de chamas. Não tinha muito estudo, mas possuía uma sabedoria toda divina para o governo de sua Ordem e o cuidado dos enfermos.

Certa vez, passando pelo porto, ouviu alguns marujos blasfemarem. Saltou na coberta da nave, com um Crucifixo na mão, e lhes disse irado: “Miseráveis! Não sei como Deus tem paciência com vocês e o mar não os traga, ou um raio não os carboniza”.

Caridade extrema até nas vésperas da morte

Após a realização do quinto capítulo da Ordem em Roma, em 1613, ele foi visitar suas outras casas com o novo superior geral.

De volta à Cidade Eterna, esgotado já pelas fadigas e sofrimentos, soube que brevemente chegaria a hora de comparecer perante o tribunal divino.

A úlcera na perna acompanhou São Camilo por mais de 40 anos, até o fim de sua vida. Foi ele também atacado por outras moléstias, levando uma vida de sofrimentos. Em sua última doença, quis ficar no hospital, e levantava-se de gatinhas do leito para ir cuidar dos enfermos.

Enfim, no dia 14 de julho de 1614, como havia predito, entregou sua alma a Deus. Tinha 64 anos de idade.

Muitos milagres se operaram em seu túmulo. Em 1742 foi ele beatificado por Bento XIV, que também o canonizou quatro anos depois.

__________

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A Lição do bambu


Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada, Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, Mas, uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída.
Um escritor americano escreveu:
"Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês":
você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento,e, às vezes não vê nada por semanas, meses, ou anos.
Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu 5º ano chegaráe, com ele, virão um crescimento e mudanças que você jamais esperava...
O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos,de nossos sonhos... especialmente no nosso trabalho, (que é sempre um grande projeto em nossas vidas)
É que devemos lembrar do bambu chinês, para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão.
Tenha sempre dois hábitos:
Persistência e Paciência, pois você merece alcançar todos os sonhos!!!
É preciso muita fibra para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão.

Autor desconhecido

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Iluminando...: PEDOLFILIA

Iluminando...: PEDOLFILIA

Iluminando...: Carta de Padre Martin Lasarte (Salesiano) Angola – 28 de maio de 2010.

Iluminando...: Carta de Padre Martin Lasarte (Salesiano) Angola – 28 de maio de 2010.

Carta de Padre Martin Lasarte (Salesiano) Angola – 28 de maio de 2010.

Sou um simples sacerdote católico, Uruguaio que há 20 anos vivo em Angola, África. Sinto-me feliz e orgulhoso da minha vocação.

Me dá uma grande dor por este grave mal que sacerdotes, que deveriam ser sinais do amor de Deus, sejam um punhal na vida de inocentes. Não há palavras que justifiquem tais atos repugnantes. Vejo em muitos meios de informação, a ampliação do tema em forma maldosa, investigando em detalhas a vida de algum sacerdote pedófilo.

Assim aparece um de uma cidade dos Estados Unidos, da década de 70, outro na Austrália dos anos 80 e assim por diante, outros casos recentes.... É curiosa a pouca noticia e desinteresse por milhares e milhares de sacerdotes que se consomem por milhões de crianças, pelos adolescentes e pelos mais desfavorecidos nos quatro ângulos do mundo!

Penso que aos meios de comunicação não lhes interessa que eu tive que transportar, por caminhos minados no ano 2002 muitas crianças desnutridas desde Cangumbe a Lwena (Luena) Angola, pois nem o governo se disponha e as ONG’S não estavam autorizadas a salva-los.

Não tem sido noticia que tive que enterrar dezenas de crianças falecidas entre os mortos na guerra e os que dela retornaram; que tenhamos salvo a vida de milhares de pessoas em Moxico mediante o único posto médico em 90.000 km², assim como a distribuição de alimentos e sementes; que demos a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas a mais de 110.000 crianças.

Não é de interesse que com outros sacerdotes temos socorrido a crise humanitária de cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois de sua rendição, porque não chegavam os alimentos do governo e da ONU. Não é noticia que um sacerdote de 75 anos, o Pe. Roberto, pelas noites percorra as cidades de Luanda curando às crianças das ruas, levando-lhes a uma casa de acolhida, para que se desintoxiquem da gasolina e outras drogas; que alfabetizem centenas de presos; que outros sacerdotes como Pe. Stefano, tenham lares transitórios para as crianças que são agredidas, maltratadas e até violadas e buscam um refugio.

Tampouco que Irmão Maiato com seus 80 anos, passe de casa em casa confortando os enfermos e desesperados. Não é noticia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes e religiosos tenham deixado sua terra e sua família para servir a seus irmãos em leprosários, hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças e órfãos de pais que faleceram com AIDS (SIDA), aqueles tantos que se dedicam às escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de cuidados a soro positivos (portadores do vírus da AIDS)... ou em paróquias e missões dando motivação às pessoas para viver e amar.

Não é noticia que meu amigo, o Pe. Marcos Aurélio, por salvar a alguns jovens durante a guerra em Angola, transporto de Kalulo a Dondo e voltando a sua missão tenha sido metralhado no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, por ir ajudar nas áreas rurais mais distantes tenham sido assassinados em um assalto em uma rua; que dezenas de missionários na Angola tenham morrido por falta de socorro sanitário, por uma simples malária; que outros saltaram pelos ares, por causa de minas explosivas, visitando as pessoas.

No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região. Nenhum passa dos 40 anos. Não é noticia acompanhar a vida de um Sacerdote “normal” em seu dia-a-dia, em suas dificuldades e alegrias consumindo sem barulho, em silêncio, a sua vida em favor da comunidade que serve. A verdade é que não procuramos ser noticias, senão simplesmente levar a Boa Noticia, essa noticia que sem ruídos começou na noite da Páscoa. Faz mais ruído uma árvore que cai, do que uma floresta que cresce.

Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e nem dos sacerdotes. O sacerdote não é nem um herói nem um neurótico. É um simples homem, que com sua humanidade busca seguir a Jesus e servir aos seus irmãos e Irmãs.
Pe. Martín Lasarte (salesiano) - Angola

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Deus não é surdo.

Deus continua chamando, convocando pessoas para serem no mundo um sinal visivel da sua presença de amor.
No passado viu o sofrimento do seu povo, ouviu o seu pedido de socorro e desceu para ajudá-los.
Hoje não é diferente, Deus não é surdo para os clamores do seu povo que pede, implora entre lagrimas, com gemidos e mesmo quando o sofrimento é tão forte, que nem mesmo as lagrimas são vistas ou os gemidos escutados, Deus ouve, Deus vê e de alguma forma intervem, Ele se faz presente, Ele é esta força que não deixa cair, não deixa que morra a esperança.
Ele não vem como Deus de carne e osso ajudar ou consolar, vem sim através das pessoas de carne e osso que no mundo são um sinal de Deus, pelo fato de segui-lo e como Jesus passar pelo mundo fazendo o bem.
Perceber esta presença e ação de Deus por meio das pessoas é muito importante, para não nos sentirmos sós ou desamparados por este amor divino. Quem são os anjos, os profetas, os seguidores de Jesus que passam pela minha vida hoje fazendo o bem, tocando o meu coração com o seu amor, reacendendo a chama da esperança.
Deus ouve e está muito atento a cada um de seus filhos e filhas, nós é que muitas vezes precisamos estar mais atentos para os seus sinais, favorecer momentos de silencio para em meio a tantos ruidos escutá-lo para que suas palavras não passem despercebidas sem ciumprir sua função.
Não sejamos surdos aos apelos de Deus. 

Ir. Célia Araujo do Carmo.
27-05-10
Feira de Santana - BA

quarta-feira, 19 de maio de 2010

PEDOLFILIA

Muito mais que pedofilia
POR CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER

As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca… A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de São Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.
As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.
O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.
Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!
Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?
As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse São Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!
A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.
E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.
Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!

Cardeal Odilo Pedro Scherer é Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo/SP.