quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Campanha contra o exterminio dos jovens

Gemidos, lamentos e gritos da juventude


No fundo de uma cela um jovem geme baixinho. Ele não é o único. 60% dos presos no Brasil têm entre 18 a 29 anos. São jovens sem perspectivas, sem sonhos, sem oportunidades...

Nós não ouvimos seus gemidos, não sentimos suas dores, não vemos seus rostos e não libertamos seus amores.

Nas ruas, um jovem sofre por não conseguir ler e escrever seu próprio nome. Ele não é o único. Em nosso país, 1,2 milhões de jovens são analfabetos.   

Nós não lemos essa informação nos jornais, não interpretamos nas escolas, não pichamos nos muros, não escrevemos o presente, nem o futuro. Se fizéssemos isso, poderíamos ajudá-los não só ler as palavras, mas ler o mundo.

Nas universidades, um jovem negro tem dificuldades para ingressar. Ele não é o único. Apenas 2% dos universitários são negros no Brasil.

Nós não divulgamos esses dados. Não discutimos, estudamos e nem encontramos teses que expliquem isso.

Bem aventurado seria o doutor que não se preocupasse apenas com sua cor.

Em casa, um jovem lamenta sua fome. Ele não é o único. No mundo um bilhão de pessoas passam fome.

Falamos que a alimentação é um direito humano, mas não temos humanidade pra reconhecer essa realidade dos que não conseguem ter nem um pedaço de pão pra viver.

Nas favelas, a polícia matou mais um jovem. Ele não é o único. No Brasil morrem em media 54 jovens por dia, vitimas de homicídios. São cerca de 19 mil jovens exterminados por ano.

A cada 10 assassinatos, 7 são negros. Somos o terceiro país que mais assassina seus jovens no mundo. A maioria é morta pela polícia. São jovens, homens, negros e pobres.

Pobres governantes e autoridades que sem autoridade não governam, não justificam seus mandatos e deixam no anonimato a juventude vítima de chacinas.

São vários os tipos de violências, como a física, verbal, psicológica, sexual... Também são várias as formas que podemos enfrentá-la.

No Brasil e no mundo um jovem grita contra as violências. Ele não é o único.

Em 2008 a Pastoral da Juventude, Pastoral da Juventude do Meio Popular, Pastoral da Juventude Estudantil e Pastoral da Juventude Rural, reunidas na 15ª. Assembléia Nacional das Pastorais da Juventude do Brasil assumiram como bandeira a luta contra a violência e o extermínio de jovens.

As Pastorais da Juventude do Brasil, nesse dia nacional da juventude, convocam a todos e todas para se colocarem em marcha contra a violência e o extermínio de jovens.

Avancem juventude, marchem, denunciem, gritem, somos fortes, somos esperança, somos rebeldia, somos a mudança!


Brasília, 19 de outubro de 2009.
Silvano da Silva

Chega de violência e exterminio dos jovens

Limitar a propriedade em defesa da vida da juventude

O tema do limite da propriedade toca diretamente este assunto. Com o ascenso da modernidade e da pós modernidade, a cidade fora cada vez mais tornando-se referência A Pastoral da Juventude do Brasil lançou importante campanha que trata do Extermínio de Jovens. É um grito forte em defesa da vida da juventude cada vez mais vulnerável em grandes centros urbanos e no interior do país sofrendo com a criminalização juvenil e sendo assassinada por diferentes mecanismos de repressão, desde a morte física ao abandono em relação às políticas públicas para a juventude. A morte do jovem padre e assessor da Pastoral da Juventude no Brasil, Gisley, traz a tona o tema que não poderá ser esquecido enquanto houver um jovem tombando neste país.
O tema do limite da propriedade toca diretamente este assunto. Com o ascenso da modernidade e da pós modernidade, a cidade fora cada vez mais tornando-se referência, não somente à juventude, mas a cultura camponesa paga o preço pelo esvaziamento nos últimos quarenta anos de políticas relacionadas a sobrevivência a partir do campo. Para a juventude ainda pior, se quiser estudar e ter acesso aos mecanismos de lazer, esta cada vez mais tem que deixar o campo e ir embora para a cidade.
Com o bum tecnológico a partir dos anos 1990, ainda mais o campo brasileiro vai sendo isolado e a juventude sempre mais expulsa para as periferias das grandes cidades brasileiras. A monocultura e o agronegócio vão descaracterizando a cultura camponesa e as pequenas propriedades vão sendo oprimidas por um sistema que favorece sempre mais a grande propriedade. Há também um envelhecimento do campo, com os filhos longe do campo, famílias inteiras vendem ou abandonam a pequena propriedade para irem embora para a cidade. Oportunidade única para que latifundiários aumentem ainda mais suas posses comprando ou arrendando pequenas propriedades muitas vezes com valores bem abaixo do estimado.
Segundo dados do IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) de 2006, no conjunto dos municípios com mais de cem mil habitantes, o valor médio de vidas de adolescente perdidas por causa de homicídios foi de aproximadamente dois para cada grupo de cem adolescentes de 12 anos. Nos dados de 2006, em Foz do Iguaçu, cidade paranaense localizada na fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina, estima-se que num período de sete anos cerca de quinhentos jovens entre 12 e 18 anos sejam assassinados, o maior índice do Brasil.
A vulnerabilidade social nas periferias ataca diretamente a juventude, que paga o preço caro da não existência de políticas públicas que possam apontar para uma melhora de vida, no sentido da qualidade de vida. Expostos a violência, ao tráfico e a uma série de ameaças que estão presentes desde as grandes cidades de nosso país a cidades menores como Marabá no Pará com cerca de duzentos mil habitantes, onde se estima que em sete anos cerca de duzentos jovens entre 12 e 18 anos serão assassinados.
Deste modo percebemos a necessidade de focalizarmos sempre mais o campo como espaço de vida. A pequena propriedade deverá ser valorizada, para que nossas vulnerabilidades sociais em relação à juventude sejam superadas. É preciso investir em políticas públicas para que nossos filhos e filhas consigam sempre mais permanecer no campo, não como sujeitos isolados, mas com acesso a mecanismos importantes como educação, saúde, lazer, entre outros.
É preciso perceber que com o limite da propriedade novas relações sociais deverão ressurgir. Pequenas comunidades, grupos de famílias morando umas próximas das outras vão resgatando um estilo de vida mais comunitário e fraterno de se viver.
Assim a cultura camponesa vai se ressignificando e a juventude camponesa ganha sentido, pois consegue ser feliz mesmo morando fora da cidade. E por ter acesso a transportes e estradas consegue acessar os centros urbanos com facilidade. Esse é nosso sonho: que a vida da juventude, seja a vida da terra, da água e de todo planeta, para que tenhamos um futuro com vida digna para todos, onde a produção continue alcançando a mesa de todos os brasileiros e que terra não seja mercadoria, mas seja lugar de vida e não de extermínio.

por Renato Munhoz,
especialista em Adolecência e Juventude, da Equipe do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra Paraná
Fonte: http://www.limitedaterra.org.br/noticiasDetalhe.php?id=212

Campanha contra o exterminio dos jovens

Reaja! A juventude está morrendo


As condições desumanas e a desigualdade social em que vivem a nossa sociedade resultam numa situação crítica de violência, para combatê-la é preciso cortar a sua raiz que está na injustiça social. A juventude é violentada de diversas maneiras: quando a sociedade não acredita no/a jovem, quando a mídia exibe apenas dois perfis juvenis (o sarado da Malhação e o malandro da favela), quando as jovens mulheres são abusadas e desvalorizadas, quando a juventude negra é humilhada, quando os apelos da propaganda fogem completamente das condições permitidas, mas a forma de violência mais cruel hoje em dia é o extermínio da juventude. A cada dia mais um corpo, mais um sonho, mais uma possibilidade de mudança aparece morto no chão das periferias do país, os jovens que morrem, têm sexo, endereço e raça.

O Estado que não garante a juventude oportunidades de educação digna, emprego, lazer e saúde, é o mesmo Estado que, na maioria das vezes, tem colocado na prática a pena de morte. Alguém poderia me responder por que matar é mais fácil do que educar? Do que amar? Do que oferecer ao jovem a oportunidade de sonhar? Chega dessa matança, a juventude quer viver, a juventude quer encontrar o lugar onde mora a felicidade. Precisamos agir, não fiquemos apenas rezando pela paz, vamos lutar, vamos buscar parcerias para oferecer a juventude oportunidades para viver dignamente.

Devemos combater o narcotráfico, que se alimenta da miséria do nosso povo. É na camada mais pobre e excluída que ele vai buscar sua mão-de-obra. E para muitos jovens negros e pobres que não são amparados pela sociedade, o narcotráfico representa uma forma de sobrevivência e de valorização pessoal. O vigor, a criatividade, a força e o poder de inovação que são próprios da juventude devem ser canalizados para a arte, a cultura, o esporte, a educação, a tecnologia, a preservação do meio ambiente e não para a violência.

Queremos uma sociedade justa, mais igual, onde ninguém seja discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, orientação sexual, atividade profissional, religião, convicção política, filosófica, deficiência física, mental, sensorial, aparência pessoal, ou qualquer singularidade ou condição social, ou ainda por ter cumprido pena.
Não podemos nos calar diante de uma situação de violência tão alarmante. É assustador saber que a cada dia mais de cem pessoas morre no Brasil vítimas da violência, totalizando 50 mil mortes por ano. A ONU considera que um país está em guerra civil quando o número de mortos por violência atinge a cifra anual de 15 mil.

Chega! Basta! Se não reagirmos agora, mais jovens morrerão e mais longe estará a possibilidade de revolucionarmos o mundo, porque essa é uma tarefa, indiscutivelmente, da JUVENTUDE.

Basta! Chega de violência e extermínio de jovens!

A Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens é uma ação proposta pelas Pastorais da Juventude do Brasil, a fim de promover uma cultura de paz em defesa da vida das juventudes, lançada no ano passado no encontro Nacional de Fé e Política, encontro este que agrega diversos atores políticos e líderes das organizações do cristianismo no Brasil.

A demanda emerge da realidade do universo social que localiza o jovem como principal alvo de violência no Brasil. Sendo que, pretende agregar os setores do governo e da sociedade civil para pautar as discussões sobre a pluralidade desta juventude, entendida não somente pela faixa etária, mas a partir de vários símbolos, esteriótipos e expressões que variam com o tempo, com as formas de interação e com o espaço, e principalmente validar a defesa de que o jovem não é tão somente promotor de violência, mas que, sobretudo é um passivo deste processo.

A violência deve ser assumida como um problema de todos/as, pois é manifestada principalmente a partir da ausência de diálogos. Sendo assim, os espaços institucionais como a família, a escola, e outros, devem repensar as suas práticas sociais para findar com a promoção e difusão de suas manifestações, seja verbal, física, psíquica ou simbólica. Lembrando de que a violência surge justamente a partir da incapacidade de aceitar o posicionamento de outrem.

Para muitos/as a única linguagem que é conhecida é a violência. Portanto, partindo dessa afirmativa, constatada nos processos educativos, precisamos enfrentar e não cooperar com as ações de humilhação (chacotas, piadinhas, preconceito, discriminação, violência física, etc;), pois com a presença destes aspectos, todos perdem ninguém é ganhador.

Para isso, é importante se reconhecer neste processo, e a partir deste avanço de reconhecimento, é necessário agir novamente alterando as ocorrências advindas da própria autonomia (liberdade de escolha), na qual, somente cada sujeito é que poderá identificar.

Quando trabalhamos no âmbito deste público, o que se pauta é justamente a idéia de que os jovens consigam exercer o direito de expressão e de serem ouvidos. Com isso, saem do anonimato simbólico e passam a exercer um papel ativo na sociedade. Além disso, a rebeldia que antes era taxada como pejorativa, ganha um status de desabafo desta juventude, e com isso passamos a indagar: Com as manifestações de atos rebeldes, o que esta juventude quer comunicar?

O adulto neste processo é uma referência ao jovem, uma vez que possui uma vivência em tempo maior. O que é válido ressaltar nesta interação, é justamente a necessidade de não haver uma disputa de forças, mas um diálogo, onde ambas as partes, os contextos, os tempos e desejos devem ser considerados, mesmo aqueles que não sejam sadios ou quistos. O que se deseja é justamente a promoção de um amadurecimento e confronto de idéias.

A cultura de paz não se instala momentaneamente, e com isso é necessário uma implicação contínua. Afinal, como devemos enfrentar a violência? Enfrentar quem? Como?

É válido lembrar que a violência não é natural, ou seja, não nascemos com ela, contudo, as relações de interação com o mundo e com os outros sujeitos é que determina e instala tal dimensão.

Se combatermos o agressor, em vez de combatermos a agressão, perdemos a oportunidade de estabelecer uma nova relação com o outro. [1] Portanto, além de percebermos as diversas dinâmicas da violência, devemos pensar esta dimensão a partir de ângulos diferentes, mais amplos e mais críticos.

Por exemplo: pensar numa ação de um maníaco ou num estuprador e seu ato de agressão/violência é pensar também nos aspectos deste sujeito “enquanto humano” e não simplesmente criminalizá-lo ou devolver em forma de violência (ou até mais violenta) os seus atos. É pensar complexamente quais as lacunas do seu processo de formação, processo afetivo, processo ético, que muita das vezes é seqüenciado de frustrações e também de agressões, ou até mesmo de negações.

Portanto, pensar em condenar somente o agressor de um ato é reduzir a cena da opressão. Por isso, é necessário pensar qual o suporte de tal cena, tais como: o impacto da herança da pobreza social na sua vida; a ausência de políticas de promoção; as regularidades e disciplinas do cotidiano; para que a partir daí, sim, o ato seja compreendido em sua conjuntura.

Paulo Freire em pedagogia da autonomia enuncia que precisamos nos reconher enquanto sujeitos condicionados, mas não determinados. Ou seja, reconhecer que a história é tempo de possibilidade e não de determinismo. Reconhecer de que somos seres inacabados e incompletos e que precisamos uns dos outros para termos plenitude.

A periferia por sua vez é sinal presente da herança da pobreza no Brasil, e sua identidade cada vez mais é negada e rotulada. Sendo assim, quando a periferia é negada pela sua identidade, marcada principalmente pela ausência de garantia de direitos, logo estes aspectos são incorporados aos seus sujeitos, que não conseguem inclusive um emprego por oferecer risco à sociedade, determinismo este advindo do seu território de moradia.

Que sociedade é esta? Este sujeito não faz parte da mesma sociedade? escolheu morar ali? E a mídia que hoje é uma das principais formadoras de opinião reforça este lugar, o criminalizando cada vez mais e afirmando este lugar sempre às margens, proliferando a invisibilidade dos potenciais, das lutas, das conquistas, das formas de resistência etc; que apresentam um outro lugar diferente do que é trazido pela TV.

Uma das chaves para a superação destes problemas sociais, é justamente se apropriar das capacidades e potencialidades de determinada comunidade. Portanto, por que não aparecem estes aspectos na mídia? Comprometeria o sistema que está posto?

Da mesma maneira, a rebeldia juvenil, propícia por sinal, também é apresentada por sua forma pejorativa, que logo é incorporada pelo senso comum, e que muita das vezes repetimos sem ao menos perceber, pois se torna natural. Com isso, as posturas da juventude ficam restritas a um recorte que se apresenta com mais intensidade, e uma outra parcela desta juventude, ou talvez a maioria, se quer, é pautada.

Por isso, pautar as discussões sobre a rebeldia (resposta/expressão a cerca do processo de interação), é incorporar aspectos que interessam e interferem na vida de todos nós, como por exemplo, as indagações: como uma juventude pode sentir prazer e vontade de estudar nas estruturas e nas motivações que se encontram nas redes de ensino? Como um jovem pode desabafar sobre seus desejos e sonhos, se a mídia de grande massa já determina que essa juventude só deseja droga, sexo e rock rool? Como valorizar o comunitário, se o sistema financeiro e produtivo que se encontra é um sistema que quer a individualidade (uma TV, um telefone, um computador para cada um, etc;), como questionar uma mídia que é inquestionável?

Portanto, pensar no sujeito jovem não é simplesmente pensar numa faixa etária, mas numa série de aspectos que são determinantes para o nosso presente e para o nosso futuro. E é válido relembrar que o futuro não é responsabilidade somente dos jovens e das crianças, mas se dará a partir das nossas ações do presente, por isso é responsabilidade de todos nós.

Pensar em políticas públicas voltadas para a juventude, ou numa campanha contra o extermínio, é pensar num diálogo horizontal entre governo e sociedade civil, para que juntos/as asseguremos minimamente os direitos básicos para a sobrevivência, como a educação, o trabalho, a alimentação, a moradia, etc; e principalmente dizer um basta para as lacunas sociais que contribuem para a desestruturação familiar, para uma ausência de espaços para interação, sociabilidade e amadurecimento de idéias. Além disso, espaços que defendam a vida e que promovam a formação humana.

Basta! Chega de violência e extermínio de jovens!



Sebastião Everton de Oliveira - Coordenador Pedagógico Programa PROJOVEM adolescente - Santa Luzia / MG - (031)3635-8397 // (031)8765-7690


[1] DISKIN, Lia; ROINSMAN, Laura Gorresio: Subsídio – Paz como se faz – UNESCO 2002.